domingo, 17 de novembro de 2013

29- Crônica: Todos os tempos acontecem agora, ou, Walter Benjamin e a força da memória.



Todos os tempos acontecem agora, ou, Walter Benjamin e a força da memória.

José Luiz Quadros de Magalhães

Existimos em nossa memória. O que é memória? Rubem Alves escreve que existem memórias sem vida própria (aquilo que a gente decora para fazer a prova) e memória com vida própria, que aparece quando menos esperamos, que se manifesta sem nossa intenção, a partir de uma imagem, um cheiro, uma situação. Memória é onde se guarda as coisas do passado, diria.
Entretanto, com Benjamin, aprendemos que cada vez que lembramos, esta lembrança ocorre em uma situação diferente, e para uma pessoa diferente, uma vez que mudamos, mesmo que não queiramos. Assim, as memórias são muitas, são milhões, bilhões, infinitas, pois cada um guarda uma memória, e a memória vive, muda com a gente.
Guimarães Rosa diz que a "estória não quer tornar-se história" e a mesma revolta de Fernando Pessoa contra os gramáticos, também toma conta de mim. Agora vêm os donos da forma e dizem que não existe mais "estória", tudo tornou-se "história"! Ora, ninguém pode querer ser dono da linguagem: como esses caras querem acabar com a estória? Isto é sem dúvida muito autoritário. Rubem Alves nos diz que "a história acontece no tempo que aconteceu e não acontece mais. A estória mora no tempo que não aconteceu para que aconteça sempre".
Assim podemos pensar a his(es)tória para Benjamin. Os caras no poder escrevem a história oficial, linear, lógica, contada por eles, morta, numa sucessão de nomes e fatos em uma lógica linear. Para nós, diante desta história oficial, como desejam os que estão no poder, só nos resta reproduzir os fatos, decorar as datas e os nomes, e repeti-los. Benjamin nos chama à revolução. A his(es)tória nos pertence. A his(es)tória é memória viva, múltipla, plural e pertence a todos nós e a cada um de nós. Assim, visitar as múltiplas memórias é um recontar permanente da his(es)tória (em um conceito quântico da história e estória que se fundem em um terceiro incluído). Alias, em Benjamin, temos um conceito quântico de história: todos os tempos acontecem agora, e a maneira como contamos nossa his(es)tória, da forma como construímos coletivamente nossa memória, dependerá o nosso futuro. O futuro e o passado acontecem agora, na "agoridade"[1] revolucionária de Benjamin, quando com coragem tomamos a palavra e construímos nosso passado a partir da construção de nossa his(es)tória memória, coletiva, dinâmica e plural, direcionando ou redirecionando o nosso futuro.
Benjamin nos mostrou que é possível sim, como propõe a física quântica, romper com os conceitos lineares de tempo e espaço. É possível viajar no tempo, isto está no nosso alcance: todos os tempos acontecem agora!


[1] "Agoridade" é a permanecia infinita do agora, a única coisa que existe(?) - esta interrogação é a dúvida que também deve ser nossa companheira de viagem, sempre, dolorosa mas amiga.

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